Eu desabrocho com a nova estação. Mudo de cor, cheiro, me visto primavera. Engraçado como acontecimentos remotos viram mais que memória, mas caminho percorrido, intuitivo, que dão o sabor de fruto maduro.
Basta caminhar pela alameda, perto de minha casa, que percebo a mudança: está no ar, está dentro de mim; a folha do calendário é verde, voa ao vento e me diz: a estação das flores e frutos chegou.
Sinto-me revigorada, semente nova, como o primeiro beijo, o primeiro momento de paixão, e a mesma energia da seiva que alimenta as árvores.
A primavera se revela e me revela, e nos tons e nuances, deságua, trazendo do passado o desejo que alimenta o presente, que me faz mergulhar na cachoeira, subir em árvore, amar ao ar livre.
Mais que uma estação, a primavera é estado espírito. Espírito livre, de raiz profunda, que balança com vento, mas não se quebra.
Mais que uma estação, a primavera é guia que me leva por caminhos, que abre picadas, que sente a natureza na sua própria natureza.
Que venham as flores, os frutos, as cores e sabores. A maçã vermelha, mordida, ganha outro contexto, é símbolo do prazer do não pecado. Porque original é tom que seus olhos percebem.