20 de jun. de 2009

Margareth Menezes, a força da natureza

Baiana com gosto de dendê, nascida em Salvador, traz na alma cores, temperos e o gingado da terra de todos os santos. Terra essa que é celeiro de uma arte vibrante, com tantos grandes representantes, como Gal, Bethânia, Carlinhos Brown, Caetano, Gil, que, aliás, rasga elogios ao se referir sobre um dos trabalhos da cantora.

“Margareth tem uma perspicácia para coisas especiais.
Essa música, “Mulher de Coronel”, é especial no meu
repertório. Ela surge dos elementos básicos da minha
formação nordestina. Ela é muito especial por causa
do tema, do assunto. Embora pudesse ser considerada banal,
a incondicionalidade do amor é uma coisa muito forte.
Margareth é um dos meus amores. É isso: amor é amor, é
incondicional! Dela eu gosto e vou gostar até morrer.” Gilberto Gil


Há quem diga que o seu canto é uma força da natureza. E quem já a viu em cima de um trio há de concordar. Parece uma guerreira de luz. Representante da cultura popular brasileira, gravou seu primeiro disco em 1988. De lá prá cá, sua carreira foi pontuada por vários trabalhos e grandes conquistas. A voz possante da baiana rasgou fronteiras, ganhou o mundo. Com o norte-americano David Byrne, colocou o pé na estrada e se apresentou pela Europa e pelos Estados Unidos no final da década de 1980. Começava aí o sucesso, também internacional.“Luz Dourada” vendeu mais de 2 mil cópias em apenas dois meses de lançamento na Suíça, e “Kindala” já ultrapassou as 10 mil cópias na França. A boa receptividade não se restringe à vendagem. “Elegibô” é considerado um dos cinco melhores discos do planeta na categoria world music, segundo a revista Rolling Stone. Na Itália, numa prova de popularidade que dispensa comentários, a cantora foi convidada especial do programa Tombola, um dos mais famosos da Radio Televisione Della Svizerra, com transmissão ao vivo para toda Itália e Suíça.Da infância na Ribeira, bairro pobre de Salvador, Margareth Menezes subiu aos palcos dos quatro cantos do planeta, conquistou fama, dinheiro e é uma estrela em ascensão. Do muito que ganhou, reparte o pão. Criou o projeto “Fábrica Cultural”, arte e educação para jovens carentes de Salvador.


Revista Util: Margareth, como funciona o projeto? Quais comunidades atende e o que oferece?
Margareth Menezes: A “Fábrica Cultural” desenvolve programas de arte, cultura e educação. No programa “Circulando Arte”, oferecemos oficinas que atendem crianças entre 6 e 14 anos que frequentam a escola. Temos o programa “Trilha da Cidadania” com cursos de qualificação para jovens dos 16 aos 24 anos.

“A Fábrica Cultural se localiza na Ribeira,
na Península Itapagipana, onde eu nasci e
me criei. Até hoje, meus pais moram lá.
Uma baianidade genuína é o que reflete o
povo da península e isso também faz parte
da nossa ação, teremos um museu
de memória da vida de Itapagipe”.


Revista Util: A responsabilidade social sempre fez parte do seu trabalho?
Margareth Menezes: Acho que o fato de ser artista já é uma ação ligada à responsabilidade social. Como vivemos num país com tanta carência de oportunidades, quando chegamos ao ponto de ter algum poder de mobilização, então começamos a pensar, a apoiar e a praticar ações sociais visando a ajudar as pessoas que precisam. Também não fazemos isso para parecermos bons, e sim para dar um retorno ao nosso povo pelo carinho, pela torcida. Claro que contamos com a presença de outras pessoas que são muito importantes para que esse trabalho seja realizado. Jaqueline Azevedo e Selma Calabrik são as guerreiras que estão me ajudando a tocar esse sonho.No final do ano passado, Margareth lançou novo CD - “Naturalmente”- que traz composições de vários artistas, entre eles Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Chico César, Zeca Baleiro e Gilberto Gil.


Revista Util: Como é isso, Margareth, reunir tantas feras neste CD? Fale um pouco desse trabalho?
Margareth Menezes: O CD “Naturalmente” está sendo muito bom para mim. Poder cantar essas músicas e exercitar todos esses sentimentos, expressões diferentes da de cantar música mais frívola, como fazemos durante o carnaval.A diferença é que o descompromisso dá lugar à atenção no "quê" e "como" estamos cantando essas coisas de amor, que pedem mais reflexões. Não adianta negar, o povo brasileiro gosta mesmo é de romance. Cantar Chico César, Nando Reis, Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Pepeu Gomes, Zeca Baleiro, Luis Represas, enfim, é um grande sonho para mim, não estou negando nem me despedindo de nada do que eu já conquistei, mas estou me reinventando no meu ofício de cantar.Tem também uma música chamada “Matança” que é de um compositor baiano chamado Jatobá. Ele mora no Rio e essa música eu acho muito especial, pois é um verdadeiro protesto ecológico que dediquei à ex-ministra Marina Silva. Por sua luta honesta e por sua história de vida, acho que ela merece toda nossa admiração.


Revista Util: Nesse trabalho você gravou uma composição própria – “Lua no Mar”. Pretende gravar outras composições suas?
Margareth Menezes: “Lua no Mar” é uma composição minha e do Robson Costa. Nos meus CDs, eu sempre incluo uma ou algumas músicas minhas, e essa está muito especial, ficou com uma cara meio bossa. Na verdade, aí tem as mãos de Mazzola na proposta, e do maestro Ricado Leão nos arranjos, que deram uma elegância particular à música. Quero aproveitar também para ressaltar a importância deste maestro que tive o prazer de conhecer, um músico fantástico e grande arranjador.

Revista Util: “Os Cegos do Castelo” é a primeira música deste trabalho. Música de Nando Reis que já fez grande sucesso com os Titãs. Por que a escolha?
Margareth Menezes: Eu adoro essa música. Cheguei a cantá-la por muito tempo nos meus shows. Quando surgiu a ideia do projeto, falei com o Mazzola sobre essa música e ele gostou.Esse laboratório pelo qual passei para cantar essas músicas foi muito interessante. Num primeiro momento, parecia distante devido a vícios que, às vezes, adquirimos quando estamos exercitando só um lado da interpretação. Eu tive que mergulhar em mim, buscar meu início de carreira, quando fazia teatro sob a orientação da professora Hebe Alves, que em duas aulas me fez resgatar essas emoções guardadas. Existe muita coisa nas entrelinhas do canto que só com estudo e exercício é que se conquista.

21 anos de carreira, 20 turnês internacionais e 12 CDs lançados.
Números grandiosos de uma carreira de sucesso, comprovadamente registrada nos principais jornais do mundo, como por exemplo: The New York Times, Le Monde, Washington Post, Players, Jornal do Brasil e muitos outros, sendo considerada pelo jornal Los Angeles Times a Aretha Franklin brasileira. O escritor Ignácio de Loyola Brandão, em entrevista para a revista Vogue, se referiu à cantora com a seguinte frase: “Entrevistá-la é querer ter uma revista inteira, não uma página, ela é um volume da MPB”.

Revista Util: Realizada? O que ainda deseja conquistar?
Margareth Menezes:A realização do artista é a atividade, a dinâmica de atuar. Já aconteceram muitas coisas ao longo da minha carreira, experiências ruins e boas, e isso nos dá uma bagagem importante para traçarmos novos rumos. Vim do teatro e do canto na noite, cantei em muitas casas de Salvador, me apresentei como atriz, também em vários palcos, por um período de sete anos. Depois que gravei a música “Faráo”, aí comecei a ser convidada para cantar em trios elétricos, mas sempre preservei o lado da pesquisa, do diferencial na sonoridade, nos temas e no jeito de cantar. O Brasil é grande, o mundo é grande, e a minha sede de cantar é enorme. "Nem que eu bebesse o mar / encheria o que eu tenho de fundo!"( Djavan). Então, ainda tenho muito pra fazer até me dizer realizada. O reconhecimento me fortalece, mas não me sacia. No Brasil, viver de arte é dar nó em pingo d'água, é atividade e sinto que ainda tenho muita coisa pra fazer.

Revista Util: Voltando lá atrás, no início de tudo, quem foi o seu grande incentivador ou mentor?
Margareth Menezes: Quem primeiro me sacou foi minha mãe, acho que pelo fato de na família dela ter meu avô José, que tocava violão, e meus tios, que faziam samba de roda. Ela ficava mais tempo com a gente, porque meu pai trabalhava, então ela tinha muita atenção para nossas manifestações. Depois, já na escola, tive uma pessoa que, realmente, foi muito importante, meu professor de teatro Reinaldo Nunes, que me esinou as coisas essenciais sobre como usar o palco, que eu trago comigo até hoje.

Revista Util: Um agradecimento especial?
Margareth Menezes: Agradeço ao Mestre Divino tudo que eu venho recebendo da vida, nas dificuldades, eu aprendo a crescer e a reconhecer o valor real de acreditar num Deus Supremo que me acolhe. Na bonança, eu quero agradecer e aprender, mais e mais, a viver melhor pra conhecer Deus. Esse é o agradecimento que eu trago em meu coração, a todo momento, agradecer por estar viva e por ter saúde, por enxergar, poder andar e poder trabalhar, e poder amar.

Revista Util: Este ano você completou 10 anos à frente do bloco “Os Mascarados”, que revitalizou o carnaval à fantasia em Salvador e, hoje, faz parte do calendário festivo da cidade e recebe turistas do mundo inteiro. Quais os planos para o bloco daqui pra frente?
Margareth Menezes: Realmente, foram 10 anos para poder estabelecer esse diferencial da fantasia no carnaval. Eu acredito muito em ciclos e agora, estou iniciando um novo movimento em minha vida, ainda não sebemos com será o próximo ano, mas eu sei que esse ano foi especial.

Revita Util: Você já gravou com Maria Bethânia, Caetano Veloso, Chitãozinho e Xororó e Ivete Sangalo. Participou do projeto Tribalistas, cantando, tocando e na parceria da música “Passe em Casa”. Cantou com Rita Lee, Titãs, Lenine, Elba Ramalho, Sandra de Sá, Hermeto Pascoal, Alcione, David Byrne, Vanessa da Mata, Milton Nascimento, Daniela Mercury, Carlinhos Brown – amigo e parceiro –, Cássia Eller, Zélia Duncan e, mais recentemente, com Gal Costa e Maria Rita, na Espanha. Com quem ainda gostaria de gravar ou dividir o palco?
Margareth Menezes: O nosso país é muito lindo e cheio de gente boa fazendo música bonita. Sinto a música como uma possibilidade de unir as pessoas. Dividir uma música é, na verdade, somar emoções, embelezar o momento e engrandecer a canção.

O escritor Ignácio de Loyola Brandão tem toda razão.
É preciso muito mais espaço para falar da
Margareth, ela é um livro em constante construção
A cada momento cria algo novo, realiza novos
projetos, transborda energia do seu canto.
Para terminarmos, Margareth, mais três perguntas:
Revista Útil: Um grande amor?
Margareth Menezes: Meu marido, minha mãe e todas as crianças do mundo.
Revista Util: Um grande desejo?
Margareth Menezes: Uma criança, duas crianças, um bocado de crianças felizes.
Revista Util: Um sonho?
Margareth Menezes: Eu sonho que as crianças sejam cada vez mas respeitadas no Brasil. Essa onda de violência sexual contra crianças e adolecentes que está circulando no nosso país é um verdadeiro pecado. E também sonho que nas novelas brasileiras tenham exemplos de famílias mais equilibradas. Nós estamos precisando resgatar o respeito familiar, tão necessário para que nossas crianças e nossos jovens se sintam mais seguros. O lugar de cada um numa família é muito importante para essa referência. É isso que eu desejo para as famílias de todo Brasil. Que Deus abençoe toda essa gente boa. Beijos, Margareth Menezes.

19 de jun. de 2009

AfroReggae

O som verde e amarelo
(revista 03 - jan.de 2009)
Por Tereza Dalmacio
Fotos JR Duran/Steff Langley/
Ierê Ferreira/Evandro João SIlva/
Rogério Santana


Como é bom olhar para o país e conhecer o Brasil que dá certo. Aquele B R A S I L forte, varonil, onde seus filhos não fogem à luta. Um Brasil que se faz e não espera acontecer. São vários exemplos espalhados pelo território nacional, gente que arregaçou as mangas e fez a diferença para comunidades inteiras. Gente que mobilizou o coletivo e transformou a realidade local. E um grande símbolo de transformação social é o Grupo Cultural AfroReggae.
Criado há 15 anos na Favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, foi buscar na arte a ferramenta de construção da cidadania de diversos jovens.Agora vamos conhecer este trabalho, sua origem, seus frutos, os caminhos trilhados, o sucesso alcançado. Vamos descobrir, juntos, a força de uma idéia, a trajetória de luta e de conquistas.

Gigante pela própria natureza
Assim podemos descrever José Júnior, coordenador executivo do AfroReggae, que tirou da adversidade energia para mudar, empreender e fazer diferente. O sujeito, que lá atrás, se indignou com a violência na porta de casa, que reagiu e nos mostrou que é possível transformar.

Revista Util: Júnior, em 1993 o Brasil assistiu, com perplexidade, à barbárie ocorrida em Vigário Geral, na qual policiais militares mataram 21 moradores, em represália ao assassinato de quatro PMs por traficantes. Conta pra gente como esse episódio transformou uma comunidade inteira e impulsionou tantas mudanças sociais?

José Júnior: No AfroReggae, nós acreditamos muito no efeito Shiva, Deus que precisa destruir para reconstruir. A chacina foi uma barbaridade e nós nos instalamos em Vigário, porque sentimos que precisávamos fazer alguma coisa ali. Não sabíamos o quê exatamente, era algo intuitivo e, ao mesmo tempo, urgente. O AfroReggae havia sido criado naquele ano, mas éramos um jornal – o AfroReggae Notícias – que destacava a cultura afro-brasileira. A tragédia nos levou para a favela e lá começamos as oficinas. Não era um esquema profissional como o que temos hoje. Aprendemos muito enquanto ensinávamos. Quando houve esse episódio, muitas instituições se instalaram em Vigário, mas o AfroReggae foi uma das poucas que por lá permaneceu. Não só ficamos lá, mas de lá criamos outros braços, outras pontes e outros trabalhos.

Revista Util: Da dor à esperança. Do trabalho à realização. Ainda neste início do projeto, o que você destacaria como fatores determinantes para tantas conquistas sociais e culturais?

José Júnior: A vontade e a crença foram as grandes alavancas de tudo. Vontade de mudar, de transformar. Em nenhum momento, por mais que o cenário fosse complexo (e tivemos muitas adversidades durante toda a nossa trajetória), deixamos de acreditar e querer. Não podemos esquecer nunca que tivemos pessoas-chaves que foram fundamentais para ajudar a projetar o AfroReggae e, conseqüentemente, contribuíram muito para nossas conquistas. A ida do Caetano Veloso e da Regina Casé, hoje nossos padrinhos, a Vigário, fez com que a imprensa, pela primeira vez, destacasse aquela favela numa matéria positiva, num caderno de cultura. Antes, Vigário só aparecia nas páginas policiais. Outra pessoa fundamental foi meu amigo e eterno guru, o poeta Wally Salomão. Ele me levava a festas repletas de artistas e formadores de opinião e dizia: "Como você não conhece o AfroReggae?", de uma forma tão indignada que era capaz de constranger o mais bem informado dos intelectuais. A partir daí, ele explicava o projeto com aquele entusiasmo que só ele tinha e, naturalmente, ampliava os horizontes do AfroReggae.“Nossos bosques têm mais vida...”Mais flores, mais esperança, sonhos e muitas outras conquistas. Hoje o projeto atende mais de 2 mil pessoas de diversas regiões, como Vigário Geral, Cantagalo, Parada de Luca e Morro do Alemão. Os jovens participam de oficinas, buscam programas ligados à arte, à cultura afro-brasileira e à educação. É valorização da vida.

Revista Util: Percussão, teatro, grafite, basquete de rua, dança...enfim, uma gama de atividades é oferecida aos jovens carentes dessas comunidades. Você diria que a arte tem vencido algumas batalhas contra as drogas? E você acredita que é possível ganhar essa guerra?

José Júnior: A arte venceu muitas batalhas contra as drogas e o AfroReggae está repleto de exemplos concretos desta guerra. Temos muitos ex- usuários e, principalmente, muitos ex-traficantes. Os agentes desta guerra mudaram de lado e, hoje, são agentes da paz. Mas o traficante da favela não é o grande responsável pelo tráfico de drogas. As indústrias mais lucrativas do mundo são as de drogas e de armas e não vejo uma solução rápida e simples para essa questão. O AfroReggae trabalha o coletivo , mas acho que nossos resultados são sólidos, porque damos muita atenção para o indivíduo, consideramos cada caso. O que é uma boa solução para um, pode não ser para o outro. E, trabalhando desta forma, você acaba conseguindo de fato alterar uma realidade.

Revista Util: Você é contra ou a favor da legalização das drogas e por quê?

José Júnior: Contra. Cresci num meio onde havia muita droga e convivi com toda a degradação e destruição que elas podem causar. Não acho que este acesso deve ser facilitado de forma alguma. Além disso, é ilusório achar que bandido ia ficar sem ter fonte de renda por causa da legalização das drogas. A violência ia se transformar, ia mudar de foco, mas não ia acabar por causa disso. Acredito até que poderia aumentar muito, pois eles teriam que vir mais ao asfalto para conseguir dinheiro e os conflitos seriam bem maiores. Na Holanda dá certo, mas eles têm uma estrutura sócio-cultural completamente diferente do Brasil. Não dá para a gente simplesmente importar esse modelo se não temos a mesma educação para as crianças, o mesmo sistema de saúde, o mesmo sistema de previdência e o mesmo histórico. Não é simples assim.

Revista Util: A ONG rompeu fronteiras e ganhou o mundo. Presta consultoria para diversos países. O Grupo Cultural AfroReggae faz shows e leva oficinas, workshops de percussão, teatro e diversas outras atividades para fora do país. O Brasil mostra a sua cara, e a fisionomia é bela e transformadora. Isso é fato e não se discute. Agora eu pergunto, o nosso modelo é universal? Pode ser aplicado por outros países que vivem também situações de pobreza e violência? Exemplos?

José Júnior: Sim e por isso conseguimos exportar o que chamamos de tecnologia social. O Brasil é um país miscigenado e a sociedade sempre foi mais tolerante com as diferenças simplesmente porque aqui todos somos diferentes. Obviamente existem barreiras e preconceitos, mas o brasileiro teve que aprender quase que naturalmente a lidar com o adverso. Temos uma capacidade de nos comunicar que vai muito além da língua. A linguagem corporal é muito forte. O AfroReggae tem uma técnica de trabalho que é a mesma em qualquer lugar do mundo e pode ser absorvida por qualquer cultura. Se no Brasil atuamos sobretudo com meninos ligados ao tráfico, na Índia capacitamos jovens que são aliciados por terroristas. Na Inglaterra o trabalho é mais voltado para a juventude pobre, da periferia, imigrante. Mas a forma que exercemos o nosso trabalho e a capacitação se dá exatamente do mesmo modo.

Revista Util: O sucesso da Banda AfroReggae tem atraído outros jovens que desejam trilhar o mesmo caminho de sucesso artístico e modelo social. Já temos aí, Banda Makala Música e Dança, Afro Lata, Afro Samba, Afro Mangue, Tribo Negra, Akoni e Kitôto. De que forma essa multiplicação artística contribui para as suas comunidades?

José Júnior: Contribui diretamente, porque gera renda na medida em que esses grupos já têm uma agenda de apresentações e recebem pelos shows que fazem. Além disso, eles ganham auto-estima. Dá para os meninos capacidade de realização de sonhos. Eles viajam para o exterior, conhecem gente, fazem intercâmbios, têm workshops. Hoje eles podem viver da arte, o que é difícil em qualquer lugar do mundo, mas para eles, que são da favela, isso já é uma realidade. Paralelamente, toda a comunidade passa a ter mais acesso à cultura, à informação e à arte.

“Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!”

Transformação social. Realização de sonhos. O despertar das potencialidades e da auto-estima das camadas mais populares. Lendo a visão, do grupo me vem aquele sentimento – orgulho de ser brasileiro. É como materializar estrofes do hino nacional.

Revista Util: E as nossas leis. A Constituição Brasileira é o desejo mais puro e humano de igualdade social. O Estatuto da Criança e do Adolescente, que completou maioridade este ano, protege nossos jovens e crianças como o seio materno. Mas está tudo no papel, a realidade é outra. Você acha possível fazer cumprir a lei? É possível materializar o que está escrito?

José Júnior: Lógico que sim. Mas para isso, a corrupção tem que acabar. E o brasileiro tem o hábito de sempre botar a culpa no outro. Só que se esquece de que se existe um policial corrupto é porque ele é corrompido. Mas quem corrompe? É a sociedade civil. Isso foi apenas uma exemplificação, mas o fato é que a corrupção está em todas as esferas da sociedade.

Revista Util: Começamos 2009. Quais são seus projetos para o novo ano?

José Júnior: Muitos. Em março iremos inaugurar o Centro Cultural Wally Salomão em Vigário. É um projeto audacioso, já que será o primeiro grande centro cultural do Rio de Janeiro dentro de uma favela. A idéia é que as pessoas saiam da Zona Sul para irem ver as mostras e eventos que ocorrerão por lá. A programação vai ser "de primeira linha", com curadoria do Hermano Vianna. Também queremos expandir a marca Conexões Urbanas, criando mais pontes para eliminar os guetos em que a sociedade se dividiu.

Revista Util: Um pensamento?
José Júnior: Onde os outros não vêem saída, a gente vê arte.

Revista Util: Uma inspiração?
José Júnior: Nada mais inspirador do que o ser humano.

Revista Util: Um agradecimento?
José Júnior: A todos que contribuem para o AfroReggae, sobretudo nossos patrocinadores institucionais Banco Real, Natura, Petrobras e Vale. À TIM também, que é uma grande parceira em eventos específicos, como o circuito de shows do Conexões Urbanas, o Conexões Funk e o Orilaxé. Também não posso deixar de citar os governos estaduais do Rio e de Minas, que são fortes parceiros.

18 de jun. de 2009

Nós do Morro: arte e cidadania



Alguns projetos brasileiros mostram sua força e seu poder de mudança, assim é com o NÓS DO MORRO, há mais de duas décadas, transformando a vida em arte.
O Grupo, fundado em 1986, no Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro, entrou em cena para que crianças e jovens da comunidade tivessem acesso à arte e à cultura. Tudo começou com uma grande sacada do jornalista e ator Guti Fraga e de um grupo local que lançaram o Projeto Teatro-Comunidade.
Nessa caminhada, produziram espetáculos no Centro Comunitário do padre austríaco-alemão Hubert Leeb. Dez anos depois, já com alguma bagagem, inicia-se uma nova fase na Escola Municipal Almirante Tamandaré. O grupo conquista o público, recebe prêmios e é reconhecido por toda sociedade.
Nós do Morro entra no século XXI com apoio da Petrobras e com estrutura disciplinar e administrativa. As turmas são divididas por faixa etária, ganham uma grade curricular, se profissionalizam.
Teatro, cinema, canto, dança, música: a soma que multiplica e transforma a realidade de milhares de jovens. Nós do Morro é uma marca sólida, que promove integração social e cultural. Trabalho reconhecido no Brasil e no mundo.


“Em 1986, surgia no meio do Vidigal, um grupo de teatro de ideias na cabeça. Durante essas duas décadas, foram encenadas 75 peças que mudaram a vida não só de quem assistiu, mas principalmente, de quem atuou. Porque subir no palco, para muita gente, foi apenas o primeiro passo para subir na vida”. WBrasil

O grupo Nós do Morro contribui significativamente para o teatro e o cinema brasileiros – contribuição expressa na realização de 19 espetáculos profissionais e seis curtas-metragens - a trupe mostrou, principalmente, a arte de quebrar preconceitos ao transformar o Vidigal em um dos mais importantes polos culturais da cidade do Rio. Em 22 anos, mais de 1.600 crianças, jovens e adultos passaram pelas oficinas do grupo de formação de atores e técnicos e alguns – como

Thiago Martins, Jonatahan Haagensen, Mary Sheyla de Paula, Roberta Rodrigues e Roberta Santiago – já ganharam a TV e as telonas do país.
O diretor Guti Fraga, idealizador da iniciativa, é rápido ao analisar o porquê do sucesso. “Desde o início, nós buscamos a qualidade. Só ela é capaz de quebrar estereótipos e construir algo positivo. Aqui, mais do que viver arte, nós vivemos cidadania, solidariedade e disciplina”, conta ele, que junto com os diretores Luiz Paulo Corrêa e Castro, Zezé Silva e Fred Pinheiro coordenam as atividades das 21 oficinas oferecidas no Casarão, sede de 1.000 m2 que o Nós do Morro mantém na comunidade da Zona Sul carioca. Atualmente, a entidade reúne 30 professores e 480 alunos.

Das conquistas do período, Guti destaca os importantes prêmios - dentre eles, o Shell (categoria Especial), o Mambembe e a Menção Honrosa da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) - a construção do Teatro do Vidigal, com capa

cidade para 80 pessoas, e o intercâmbio com outros países, que possibilitou a coprodução de filmes e a apresentação do Grupo no festival The Complete Works, promovido pela Royal Shakespeare Company, na Inglaterra, em 2006, e no Barbican Center, em 2008.
“Outro ponto muito legal é o caráter multiplicador do nosso trabalho, que hoje atende também à população do interior do estado. Já estamos realizando trabalhos em Saquarema, Itaocara, Japeri e Nova Iguaçu”, enumera Guti, acrescentando que fortificar a atuação nessas cidades, construindo uma sede e um teatro em cada uma delas, é o grande desafio dos próximos anos.

Util: Guti, o sonho já virou realidade ou ainda há muito trabalho pela frente?
Guti Fraga: Acho que o sonho já virou realidade e a realidade quer dizer muito trabalho pela frente. Mas é um privilégio ter muito trabalho pela frente.


Revista Util: Voltando no tempo, lá naquele início, você poderia imaginar essa trajetória de sucesso e realizações?
Guti Fraga: Não, eu nunca poderia imaginar que as coisas caminhariam pela ideia do sucesso. Mas eu me sinto muito realizado em saber, e no meu coração eu tenho certeza disso, que
muitas pessoas encontraram oportunidades que não teriam se não fosse o Nós do Morro. Então, para mim, o grande sucesso do grupo é ter sido o berço, o leque de possibilidades para a realização pessoal e profissional de muita gente. Nosso trabalho sempre foi o de romper estereótipos.

Revista Util: Como toda favela brasileira, o Vidigal também convive com a droga e o tráfico. Você acredita que o projeto consegue tirar o jovem dessa roubada?
Guti Fraga: Não digo que o projeto tira as pessoas desta roubada. Eu diria que o projeto dá uma outra opção, assim como estudar, trabalhar na feira ou de balconista também são caminhos possíveis e seguidos por muitos. São muitas as possibilidade, mas é claro que o Nós do Morro é uma opção - e uma opção próxima - de socialização. A arte tem o poder inimaginável de mudança e é uma escolha social e uma escolha de vida.

Revista Util: Me fala mais do homem Guti Fraga. Você era estudante de medicina, e como sua vida foi direcionada para o teatro? Como aconteceu essa mudança de caminhos? Ou estudava medicina e já era um apaixonado pelas artes?
Guti Fraga: Eu, na verdade, comecei a fazer teatro em Goiás. Éramos um grupo mambembe. A gente tinha uma kombi com a qual rodávamos o interior do país fazendo espetáculos. Quando conseguíamos juntar um dinheirinho, colocávamos gasolina e partíamos para a próxima cidade. Isso fortaleceu muito meu caminho, porque, mesmo muito pobre, eu tive essa oportunidade desde cedo. No entanto, a gente sentia necessidade de ter um curso profissional e isso não existia em Goiás na época. Então eu fui morar na Argentina, fazia medicina pela manhã, agronomia à tarde e teatro à noite. Em um determinado momento, larguei a medicina e a agronomia, voltei para o Brasil e vim morar no Rio. Aqui minha vida mudou. Continuei a fazer teatro e comecei a estudar jornalismo, faculdade que concluí. Hoje continuo sendo como eu sempre me intitulo: um "peão" da arte, com muito prazer, sim senhor!

Revista Util: E qual foi a inspiração para criar o Nós do Morro?
Guti Fraga: Minha inspiração vem muito da experiência de morar no Vidigal, local onde vivo há 33 anos, e da minha vida profissional com a Marília Pêra. Trabalhei com ela de 1981 ao início de 1986, e ela foi a pessoa que abriu meu olhos para a vida, meu coração, minha arte e elevou a minha autoestima. Com a Marília, adquiri conhecimento no trabalho e na vida. Foi o que me fortaleceu. A ideia veio mesmo quando nós viajamos a Nova Iorque e conheci a qualidade dos espetáculos off- -off-Broadway, que tinham características experimentais, não amadoras. Lembrando-me dos talentos que já havia reconhecido no morro, pensei que seria possível fazermos algo semelhante por aqui. Assim que retornei ao Brasil, reuni um grupo para dar início ao projeto. Eu fui um pobre que teve todas as oportunidades na vida e via tantas pessoas talentosas no Vidigal, pessoas com quem eu convivia na comunidade e não tinham
oportunidades. Foi algo que me provocou muito e que me deu coragem de fundar o Nós do Morro. Essa foi minha verdadeira inspiração.

Revista Util: É um homem realizado?
Guti Fraga: Não me sinto um homem realizado. É muito doido isso, porque o que é sentir-se realizado? Sentir-me realizado como? Pois se todo ano lutamos para ter patrocínio, lutamos para ter parcerias com dignidade... Às vezes, você está com uma leva de pessoas e acha que
chegou, que atravessou caminhos, processos de crescimento e momentos da vida. Mas aí você olha para trás e vê que tem uma legião de pessoas que estão vindo com as mesmas necessidades. Então a vida é realmente um eterno recomeçar. E este eterno recomeçar também é um privilégio, temos que estar abertos para as mudanças, para as inovações e para as transformações e vamos caminhando desta forma, buscando o equilíbrio da vida através da arte.

Revista Util: O que falta?
Guti Fraga: Falta, depois de 22 anos, eu tirar férias, falta não ter gastrite por falta de apoio ou patrocínio. Se eu for falar, vão ser muitas coisas, falta estrutura. Fico sempre muito triste nessa época do ano, por exemplo. Todo início de ano somos procurados por muitas pessoas, mais de mil, mas só temos oitenta vagas. Isso realmente me entristece e me dói o coração. Falta espaço físico, falta construir nossa sede oficial, enfim, vamos lutando, pois também temos que agradecer tudo que conquistamos até agora. E este pedaço que conseguimos é maravilhoso.

Revista Util: Qual a mensagem você deixaria para o nosso leitor?
Guti Fraga: Independente de classe social, o ser humano sonha. E temos que acreditar em nossos sonhos, não abrir mão deles por nada. A vida levada através da arte é mais bonita de ser vivida. A vida é uma só, viva intensamente e acredite que só o coletivo tem a força para transformar. Acredite na solidariedade de verdade, respeitando o próximo, não jogar papel no chão e nem guimba de cigarro, enfim, é isso.

15 de jun. de 2009

São João, acenda a fogueira do meu coração


Anarriê
Anavantur
Caminho da roça
Aí vem chuva
Vamos entrar no clima dos festejos juninos.
Os santos já estão reunidos: Santo Antônio, São Pedro e São João.
É hora de escolher a chita mais bonita, remendar as calças dos cavaleiros e dançar quadrilha.
Em junho, pipocam “arraiás” nos quatro cantos do país.

No nordeste, por exemplo, festejo junino é tempo de celebração e agradecimento. A data é a mais importante no calendário oficial de diversas cidades, atrai turistas, incrementa a economia e o forró contagia a multidão. Como o mês de junho é o momento de se fazer homenagens aos três santos católicos, e, nesta região do país, a seca é um problema grave, os nordestinos aproveitam as festividades para agradecer as chuvas raras, que servem para manter a agricultura. Pelo menos, esse foi o motivo inicial de toda essa tradição. Porque hoje a conversa é outra.

Músicas, comidas típicas, vestimentas, bebidas, ornamentos, simpatias, histórias, danças, a festa junina é uma parte riquíssima da cultura brasileira. Do banco escolar à vida universitária, passando por clubes e espaços públicos, a festa caipira agrada a todas as idades. Pode ser o forró, o xote ou o baião de mestres como Gonzagão, ou a viola caipira do interior do Brasil. Mas, como tudo isso começou?

Caipira, sim sinhô
Será? Os livros de história contam que as festas juninas ou festas dos santos populares são celebrações brasileiras e portuguesas historicamente relacionadas à festa pagã do solstício de verão, que era celebrada no dia 24 de junho, segundo o calendário juliano (pré-gregoriano) e cristianizada na Idade Média como "Festa de São João". Além de Portugal, a tradição veio de outros países europeus cristãos a partir de meados do século XIX. Ainda antes, porém, a festa já tinha sido trazida para o Brasil pelos portugueses e logo foi incorporada aos costumes das populações indígenas e afro-brasileiras. Festas de São João são ainda celebradas em alguns países europeus católicos, protestantes e ortodoxos (França, Irlanda, países nórdicos e do Leste europeu).
Fé, muita fé, minha gente
Confessei-me a Santo Antônio,
confessei que estava amando.
Ele deu-me por penitência
que fosse continuando.


Tem muita gente que tem tanta fé no santo casamenteiro que espera pela data com o enxoval quase pronto. Aí é simpatia, reza, promessa. A Dona Maria Emília, por exemplo, conta que foi em 1973, no interior de Minas, na cidade de Varginha, que fez uma simpatia para Santo Antônio e, no ano seguinte, estava casada. Diz ela que ensinou para muitas amigas, até para as filhas, e está todo mundo bem casadinha. Assim diz a comadre.

Bom, você quer tentar? A simpatia que deu certo para Dona Emília é a seguinte: à meia-noite do dia 12 de junho, quebre um ovo dentro de um copo com água e o coloque no sereno. No dia seguinte, interprete o desenho que se formou. Se aparecer algo semelhante a um vestido de noiva, véu ou grinalda, o casamento está próximo. Se der certo pra você, escreva pra gente pra contar e não deixe de nos convidar para o casamento.



Pense bem, véspera de Santo Antônio é o dia dos namorados. Quem sabe esse ano seus desejos não se realizam. Mas deixando Antônio de lado, na sequência, vêm João, 24 de junho, e Pedro, 29 do mesmo mês, marcando o encerramento dos festejos juninos.

Pedro, o pescador, tornou-se apóstolo e acompanhou todos os atos da vida de Jesus. A tradição popular interpreta uma passagem bíblica, em que Jesus Cristo diz: "Eu te darei a chave do reino dos céus. A quem abrires será aberta. A quem fechares será fechada". Daí São Pedro ficou conhecido com o Porteiro dos Céus.
Vários costumes juninos representam atos em homenagem a São João. A fogueira, por exemplo, lembra o anúncio do nascimento de João Batista, filho de Isabel e primo de Jesus, à Virgem Maria. Como era noite e Isabel morava em uma colina, esta foi a maneira encontrada para o aviso.
Por este motivo, nas noites de junho são montadas fogueiras como forma de celebração. Para a Igreja Católica, o acontecimento significa algo mais: preparar a vinda de Jesus. No sertão, o batismo de João também é lembrado com banhos à meia-noite no rio mais próximo.


Agora programe-se:
Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, atraem multidões, são as duas maiores festas do Brasil. No ano passado, os dois municípios, durante todo o mês de festejos, receberam cerca de 4 milhões de visitantes, movimentou 20 milhões de reais e gerou 5 mil empregos temporários. Se você deseja conhecer, se apresse, os hotéis ficam lotados.

Mas lembre-se de que os nove estados nordestinos: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe já estão com toda programação para os festejos.
No Rio de Janeiro, a festa na tradicional Feira de São Cristóvão tem comidas típicas, brincadeiras, sanfoneiros e mais de 20 quadrilhas vindas de todo o Estado, é o destino de muitos nordestinos que moram aqui e também dos cariocas. Quer saber mais, acesse o endereço eletrônico - http://www.feiradesaocristovao.org.br/.

E se você busca São João com solidariedade, o endereço na cidade maravilhosa, é o Jockey Club da Gávea, com o Arraiá da Providência, conhecido como “Roça in Rio”. A festa já faz parte do calendário oficial da cidade e reúne personalidades do mundo artístico e a nata carioca. O ingresso custa R$ 20,00. Todos os detalhes no site www.bancodaprovidencia.org.br/arraial.

Outra boa opção é a festa junina do Retiro dos Artistas, que oferece muitos shows, quadrilhas e comidas típicas. A renda é revertida para a instituição com o mesmo nome, que abriga 50 atores veteranos no Rio de Janeiro. Diversão com solidariedade é sempre muito bom. Mais detalhes, http://www.casadosartistas.org.br/.
Minas, São Paulo, região norte e centro-oeste, o país inteiro se veste a caráter e se diverte em grandes festas ou pequenos arraiás espalhados pelos municípios.

Então vamos lá:
Anavantur (em avant tout)
Anarriê (em derrière)
Balancê (balancer)
Travessê de cavalheiros (travesser)...

Fonte: WIKIPÉDIA - Por Tereza Dalmacio/Fotos Luciano Lellys

Voluntários da Pátria

Colcha de retalhos que aquece a alma
(REVISTA 02 - Nov 2008)

Reportagem publicada na Revista de Bordo - Nov. de 2008 (Tereza Dalmacio)
Sabe aquelas misturas que encantam, que invadem a alma, que preenchem? Assim debruço meu olhar, apuro meus sentidos e sinto a força e a poesia de quem tem muito a dizer.Pode ser um grito ou um sussurro, mas a mensagem vem sempre carregada de paixão, de apelo social, não à violência, basta à injustiça, uma coragem assustadora, gerada na dor, parida no desejo de mudança.Quanta beleza, quanta indignação.
É um hino...
R E T U M B A N T E !!!
Em cena o Brasil que desejamos... com personagens verdadeiras, gente de carne e osso, que sente, transpira, inspira, que sacode essa terra verde e amarela. A verdadeira soma que multiplica.O Tico descreve (no site) o projeto de forma direta, objetiva, transparente.

Pedro Poeta
Igor Cotrin
Edu PlanchêsTico Santa Cruz
Glad AzevedoTavinho Paes
Betina KoppGean Queiroz
Mel Tofanello
V o c ê

Poetas, atores e músicos interpretando textos, crônicas, poemas de autoria própria em performances de improviso. A ordem é: Sentir e expressar. Não tem um roteiro e nem uma direção específica, o que dá ao espetáculo uma espontaneidade e uma aura de mistério, surpresas e descobertas.O "Voluntários da Pátria" é um grupo voluntário criado por Tico Sta Cruz (Detonautas) para desenvolver nas universidades e escolas públicas e particulares um diálogo poético-literário, onde o público participa da apresentação e expressa suas impressões.
http://www.voluntariosdapatria.org/
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É isso, mas também é muito mais que isso. Ver este grupo contagia, provoca, tira da inércia, da mesmice. Vamos conhecer um pouco mais do VP com o vocalista dos Detonautas (entre tantas outras coisas) Tico Santa Cruz e a atriz Betina Kopp.

RB: Você não acha que o Voluntários da Pátria divide muito mais que a cultura, divide o desejo de ter e poder contribuir com um país mais justo, sem violência?Betina: Sim. O grupo busca a arte como elemento transformador, capaz de motivar e encorajar uma postura ativa na sociedade. A arte funciona como elo de ligação, é através dela que tocamos os corações e chamamos para a reflexão do bem comum. Paralelamente ao "Circuito de Poesia, Música e reflexões coletivas", o grupo participa de manifestações, campanhas pela valorização da vida e montagens de bibliotecas em comunidades carentes e carceragens. Tico: Vejo no Voluntários da Pátria uma excelente oportunidade de dialogar com os jovens, adolescentes e até crianças a respeito de assuntos que formam a base para uma sociedade justa e mais humana. Temas como cidadania, política, educação, literatura, música, abordados de maneira lúdica, numa linguagem acessível e divertida, que ao mesmo tempo instiga e leva o questionamento. A arte e a cultura salvam vidas com certeza.

Betina: Sim. O grupo busca a arte como elemento transformador, capaz de motivar e encorajar uma postura ativa na sociedade. A arte funciona como elo de ligação, é através dela que tocamos os corações e chamamos para a reflexão do bem comum. Paralelamente ao "Circuito de Poesia, Música e reflexões coletivas", o grupo participa de manifestações, campanhas pela valorização da vida e montagens de bibliotecas em comunidades carentes e carceragens. Tico: Vejo no Voluntários da Pátria uma excelente oportunidade de dialogar com os jovens, adolescentes e até crianças a respeito de assuntos que formam a base para uma sociedade justa e mais humana. Temas como cidadania, política, educação, literatura, música, abordados de maneira lúdica, numa linguagem acessível e divertida, que ao mesmo tempo instiga e leva o questionamento. A arte e a cultura salvam vidas com certeza.

Tico: Vejo no Voluntários da Pátria uma excelente oportunidade de dialogar com os jovens, adolescentes e até crianças a respeito de assuntos que formam a base para uma sociedade justa e mais humana. Temas como cidadania, política, educação, literatura, música, abordados de maneira lúdica, numa linguagem acessível e divertida, que ao mesmo tempo instiga e leva o questionamento. A arte e a cultura salvam vidas com certeza.

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RB: O Voluntários da Pátria percorre todo o país, de norte a sul. Então conta pra gente, o nosso Brasil tem muitas caras? E quais são elas?

Betina: Nossa apresentação não tem roteiro e estimulamos muito a participação do público. É a participação deles que nos mostra quem são aquelas pessoas. O Brasil é muito grande e por isso encontramos diversidade sim. No Sul, existe um debate sempre produtivo, os estudantes são mais preocupados com a política. Mas de uma forma geral, norte, nordeste, centro-oeste, sudeste, todos passamos pelos mesmos problemas. E todos devemos nos unir por um país melhor e mais forte em toda sua extensão.

Tico: O Brasil é um continente, é um país que tem tudo para ser o melhor do mundo. Temos uma natureza exuberante, riquezas naturais que faltam a outras potências, temos terras férteis, litorais belíssimos, temos uma diversidade de raças que nos proporciona uma aquarela cultural enorme. O Brasil é um país jovem ainda, precisa sair da condição de colônia de exploração à qual fora submetido desde sempre. Despertar esse gigante é complicado, porém quando o povo tomar consciência de sua responsabilidade e de seu poder e entender que precisamos dedicar mais do nosso tempo ao crescimento coletivo, ao amadurecimento de valores e princípios éticos que nos possibilite conviver e evoluir como cidadãos conscientes, revir algumas posturas que são verdadeiros atrasos principalmente no que diz respeito à educação e à Justiça, então seremos uma nação verdadeira. Porém é preciso começar HOJE e deixar de lado esse negócio de país do futuro. Precisamos mostrar quem somos nós.

RB: Esse trabalho leva o jovem à reflexão? Já ficou registrada alguma mudança individual? O antes e o depois Voluntários da Pátria?

Betina: A simplicidade do projeto revela a facilidade de seguir com iniciativas como a do grupo, estimulando a criação de grupos regionais a criarem seu próprio grupo de ação coletiva. Em dois anos de existência, o grupo já colheu resultados positivos, sendo a resposta imediata durante e após as apresentações. Eu vejo a resposta imediata, durante a apresentação quando um jovem vem ao palco emocionado, carregado pelo desejo da ação para falar o que ele pensa. O importante é a motivação da iniciativa da ação, que em tempos atuais revela-se passiva. Em cidades nas quais o grupo retornou, pode-se acompanhar o desenvolvimento artístico de alguns e a formação de grupos interessados no bem comum.

Tico: Embora não tenhamos objetivos imediatistas, recebemos muitas informações de escolas principalmente onde, depois da passagem do Voluntários, grupos de leituras se formaram, jovens passaram a interagir mais com as artes e com a cultura, acima de tudo com os livros. Recebemos e-mails e mensagens de pessoas que passaram a dar mais valor a suas atitudes perante a sociedade e isso é um grande presente.

RB: Vamos voltar um pouquinho e contar para o nosso leitor como tudo isso começou? A motivação inicial? O encontro? O grupo? O voluntariado?

Betina: O encontro foi espontâneo. Sempre digo que esse projeto não saiu do papel, saiu do coração. O Movimento da Poesia no Rio de Janeiro está cada vez mais forte e ganhando adeptos que consideram a leitura a maior arma de mudança. Nesses movimentos o palco é aberto para qualquer forma de expressão artística, como acontece no Voluntários da Pátria. O grupo se conheceu no ‘Dizer Poesia – Universo da Leitura’ e se formou naturalmente por possuir interesses em comum. O Tico foi fundamental na formação do grupo, dando credibilidade para um grupo que ninguém sabia ainda o que era, nem nós. O desejo de FAZER foi a grande motivação.

Tico: Conheci todos os Voluntários da Pátria num sarau que acontece numa livraria no Rio de Janeiro. Após o assassinato de meu companheiro de banda, Rodrigo Netto, estava completamente desesperançoso com relação aos rumos que deveria tomar. Lá fiz novos amigos, encontrei outros horizontes e após uma maravilhosa experiência numa faculdade no município de São Gonçalo onde fomos assistidos por mais de mil alunos, percebemos que o grupo deveria prosseguir levando este mesmo formato de debates, música e poesia a outros lugares, carentes ou não. Nós enxergamos o Voluntários como a CRUZ VERMELHA das artes, somos apartidários e, embora tenhamos nossas ideologias, a principal bandeira é resgatar a força que a juventude tem na transformação de um país e, para isso, iremos a qualquer lugar, desde um shopping que as madames mais ricas freqüentam, até uma favela onde miseráveis passam fome. Nosso objetivo é abrir frentes para que possamos repensar o papel de cada um diante desse mecanismo.

RB: O grupo Voluntários da Pátria, já realizou vários protestos – diga-se de passagem, pra lá de criativos – como: depositar rosas vermelhas nas praias do Rio; colocar sacos de laranjas na frente do Congresso em Brasília; e se vestir de fantasmas para afastar a violência e a corrupção. A mídia sempre se mobiliza e registra essa luta, o jovem participa. E as autoridades, além de levarem um baita puxão de orelha, como se comportam diante do fato?

Betina: Os protestos são uma forma de mostrar que não estamos aceitando o que está acontecendo. As pessoas já se acostumaram aos escândalos e nada fazem para mostrar indignação. Nós queremos mostrar que não estamos alheios a toda essa safadeza que é a política brasileira. Os protestos têm sempre um caráter lúdico, a arte é nossa grande arma.

Tico: Os protestos têm como objetivo soar o alarme de que existem pessoas que estão atentas ao que está sendo feito. Chamamos a atenção da sociedade e buscamos mobilizar a opinião pública para determinados assuntos. A participação do povo nas ruas é fundamental para questões importantes como as que se referem aos direitos básicos do cidadão. Se somos capazes de fazer filas de dias atrás de ingressos para jogos de futebol e shows internacionais, precisamos usar a mesma energia para lutar por justiça, respeito e dignidade.

UTIL: Vocês acham que o Brasil tem jeito?

Betina: Precisamos acreditar que sim. Não podemos nos acomodar e perder as esperanças, ficar sem motivação. A união do povo é capaz de mudar muitas coisas, basta acreditar. “ESPERANÇA é como um girassol, que à toa se vira em direção ao sol. Mas não é à toa, virar-se para o sol é um ato de realização de fé.” (Clarice Lispector)

Tico: Só para a morte não tem jeito.

RB: Para encerrar nossa entrevista: um ping-pong. Uma palavra?

Betina: Movimento
Tico: Perseverança

RB: Um pensamento?

Betina: "...E assim a reflexão faz todos nós covardes. E assim o matiz natural da decisão se transforma no doentio pálido do pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação." Hamlet - Shakespeare

Tico: Reaja povo Brasileiro

RB: Um desejo?

Betina: Seguir com o grupo e conquistar cada vez mais adeptos pelo país. A união faz a força.

Tico: Ter saúde para lutar sempre.

O Projeto Voluntários da Pátria é aberto, é para quem quiser, para quem chegar com o coração aberto, a mente limpa e o desejo de mudar.

Outras reportagens

9 de jun. de 2009

PERFIL: Paulo Zulu

Fotos: Tatiana Tehbein
Paulo Cezar Fahlbusch Pires, mais conhecido como Paulo Zulu. Carioca da gema, amante do mar, da natureza. Trocou o Rio de Janeiro por Floripa. Já desfilou nas passarelas do mundo, fez novelas globais, foi fotografado pelos grandes nomes da moda. Pai, marido, um homem realizado e de bem com a vida. Assim podemos definir um pouco desse modelo brasileiro que escolheu a simplicidade como companhia e a alimentação natural como filosofia de vida.

Tereza Dalmacio: Quarenta anos com corpinho e saúde de vinte. Qual o seu segredo?
Paulo Zulu: Alimentação e disciplina para manter uma vida saudável.
TD: Para você, a alimentação natural é o caminho para a vida plena?
Paulo Zulu: Com certeza!!
TD: Como o seu corpo reagiu à mudança alimentar? Há um período de desintoxicação? É difícil esta fase?
Paulo Zulu: Foi uma mudança gradativa, comecei a fazer opções alimentares mais saudáveis, aboli carne vermelha e de porco, não senti nenhuma diferença radical de imediato.
TD: Que conselho você daria para quem quer mudar hábitos, escolher uma forma mais saudável de viver?
Paulo Zulu: Reeducação alimentar e a prática de esportes nos trazem a garantia de uma qualidade de vida positiva.
TD: Você começou a ganhar a vida como surfista profissional por volta dos 16 anos, na década de 70. Depois, as passarelas. Conta um pouco da sua trajetória pra gente?
Paulo Zulu: Como surfista profissional, sempre estive na mídia, as revistas especializadas faziam matérias comigo. Peguei algumas fotos minhas e levei para um agente (Sérgio Mattos) que adorou e começou a me oferecer trabalhos no Rio e em São Paulo. Depois fui para Paris e então, comecei a trabalhar no exterior, por onde fiquei por 5 anos.
TD: Rio de Janeiro. Nova York. Paris. Grandes cidades, o sonho de consumo de muita gente. Mas você escolheu o sossego da praia da Guarda de Embaú. Como foi essa troca do glamour pela simplicidade?
Paulo Zulu: Eu sempre fui um cara simples. E tento levar a vida da forma mais sustentável possível.
TD: Surfista, modelo e ator. Quando e como foi a sua estréia na Globo?
Paulo Zulu: No auge do meu trabalho de modelo no Brasil, fiz umas duas ou três participações em novelas, o resultado deve ter agradado a ponto de a emissora me convidar para representar um personagem. Isso foi em 1999/2000.
TD: O que mais gosta de fazer profissionalmente?
Paulo Zulu: Dentro de minha profissão, tudo.
TD: Você é casado com a também modelo, Cassiana Mallmann, tem dois filhos, Patrick e Derek. Com é o Paulo Zulu, pai?
Paulo Zulu: Um pai amigo, que se preocupa muito em definir bem os reais valores da vida para seus filhos, um pai apaixonado!

TD: Planos de aumentar a família?
Paulo Zulu: Não, dois filhos está bom.
TD: Já falamos do surfista, do modelo, do pai, e o Paulo Zulu empresário, dono de pousada ou é a Cassiana que administra o negócio?
Paulo Zulu: Os dois, eu administro as “roubadas” e ela administra a contabilidade e as burocracias.
TD: Qual a sua rotina?
Paulo Zulu: Quando não estou trabalhando, acordo cedo e vejo o mar, se tiver boas ondas, vou direto surfar, caso não tenha, faço outras coisas, corro, curto meus filhos, cuido da pousada, organizo meu barco de pesca...
TD: Para encerrar vamos fazer um ping pong rápido.
Esporte? Surf e jiu-jitsu.
Prazer? Estar no mar.
Uma paixão? Minha família.
Um sonho? Viver muito para curtir minha família ao máximo.
Um pensamento? Só o amor constrói.

6 de jun. de 2009

Nelson Freitas, de bem com a vida

Cinema, teatro, televisão, música, Colégio Militar, Marinha Mercante. Dessa mistura louca – Nelson Freitas, ator, humorista, um cara de bem com a vida e trabalhando a todo vapor. São mais de duas décadas divertindo o público com humor irreverente, leve e apaixonante.
A estreia profissional foi em 1987, Teatro Cassilda Becker, São Paulo, com a peça “Nossa Senhora das Flores”. Texto de Jean Gennet, dirigido por Maurício Abud e Luiz Armando Queiroz.
Na sequência, muitos musicais dirigidos por Wolf Maia, José Fernando, Diogo Vilela, Cininha de Paula e Flávio Marinho. E muito mais estava por vir.
Várias novelas na TV Globo, entre elas, “Irmãos Coragem”, “Rainha da Sucata”, “O Mapa da Mina”, “Salsa e Merengue” e ”Filhas da Mãe”. Minisséries, mais novelas, inclusive fora do país. Cinema, mais teatro, mais televisão.

Conheça mais do ator e do homem, Nelson Freitas.

Revista Util: Nelson, como o menino, estudante de Colégio de Militar, descobriu a arte?
Nelson Freitas: Sempre fui o palhaço da turma... onde quer que estivesse, o meu prazer era fazer a alegria e a integração da galera... isso funciona até hoje, sou leonino, exibicionista, e adoro fazer as pessoas rirem. É uma vocação... e como tal, fiz dela o meu ganha-pão.

Revista Util: Em que momento essa paixão aconteceu?
Nelson Freitas: Não existe um momento exato, pois sempre estive envolvido com arte, seja cantando em bandas como a “Oscaravelho” que montei com amigos, em Mogi das Cruzes, onde nasci; em grupos vocais no Colégio Militar de Belo Horizonte, onde organizava festivais que arrebatavam uma multidão em BH, e em peças de teatro que montava na EFFOM (Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante) em que, depois de formado e viajando pelo mundo, fiz Análise de Sistemas na PUC do Rio e comecei a fazer um curso de teatro no Planetário da Gávea em 85. Aí danou-se... como diz o poeta Lulu: “nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia”...
Revista Util: Houve apoio dos seus pais ou escolher a carreira artística foi um problema familiar?
Nelson Freitas: Um “baita” problema...kk eles foram à loucura... “como é que você larga a Marinha e um futuro nos computadores, pra ser um fu... de um artista sem futuro, sem dinheiro??” mas até aí eu já mandava na minha vida e não queria deixar passar essa existência sem arriscar essa possiblidade... Deu certo... hoje sou o “isquidim” na cidade e, lá em casa, o “herói”, mas me considero mesmo um sobrevivente... todo mundo sabe o que é se manter ao sol nesse mercado, sem ter que fazer “teste do sofá” pra ninguém...kkk
Revista Util: Teatro, Tv ou Cinema? Ou os três?
Nelson Freitas: São operações distintas... o teatro é a forja, um exercício a cada sessão... a TV uma ciência imediata... não se tem tempo pra muitas elucubrações, há que se ter uma técnica de posicionamento e uma velocidade de raciocínio pra se formar um organismo entre os câmeras, o diretor de corte, o cenário, enfim... e o cinema uma linguagem artesanal, mais cuidadosa, pois se trata de um processo químico, os negativos são caros, a leitura da câmera requer precisão onde o foco se perde num espaço de 2 centímetros de movimento, mas em comum, todos os veículos precisam contar bem uma história que encante, que emocione, que inspire... essa é a função da arte.
Revista Util: Você se considera um artista completo?
Nelson Freitas: Acho que sim... eu canto, danço, faço rir, chupo cana, assovio... tudo em nome da arte e de um bom supermercado no fim do mês...
Revista Util: Você trabalhou como ator na Argentina. Como foi essa experiência e como tudo isso aconteceu?
Nelson Freitas: Buenos Aires foi um deleite... fiz um teste no SBT pra uma novela (Pérola Negra), mas que não fui selecionado... Os diretores da Telefé Argentina, vieram atrás de atores para fazer a versão brasileira de “Chiquititas”, viram meu teste e me chamaram... aquelas coisas que a gente só entende quando fica velho... que nada é perdido e que até um pé na bunda te empurra pra frente... Fiz o protagonista durante dois anos, ao lado da Flavia “espetáculo” Monteiro, Gésio “amado” Amadeo, Débora “maravilhosa” Olivieri, e tantas outras crianças que depois despontaram na TV no Brasil. Foram dias de encantamento, e de muito trabalho, numa das cidades mais bacanas da América do Sul, que me trouxe um reconhecimento nacional, “tarimba” , e uma legião de fãs mirins que até hoje me identificam pela rua.
Revista Util: Como é fazer o “Zorra Total”?
,Nelson Freitas: O “Zorra” é um fenômeno... um remanescente do bom e velho humor de bordão da TV Brasileira, assim como “Balança Mas Não Cai” , “Faça Humor Não Faça Guerra”, “ Planeta dos Homens”, e tantos outros estrelados pelo genial Jô Soares, e o amado mestre, Chico Anyzio, que inexplicavelmente, deixa saudades, ainda em vida, e com um talento e uma inteligência que fez rir tanta gente nesse pais... vai entender... Mas esse legado, tão bem conduzido por um dos maiores diretores de televisão que se conhece, Mauricio Sherman vem cumprindo sua função com honras e glórias... Inicialmente para ficar no ar por um curto período, já está completando, esse ano, 10 anos de uma alegria ingênua, doce, e despretensiosa, onde fui recebido com muito carinho por todos, e que entre tantos personagens, me alçou a uma categoria seleta que é a dos comediantes. Adoro trabalhar com essa produção e me sinto verdadeiramente valorizado e recompensado por estar trabalhando numa empresa que é um expoente internacional como a TV Globo.
Revista Util: Qual é o seu grande prazer nesse trabalho?
Nelson Freitas: É saber que aquilo que estamos fazendo naquele mundinho dentro do Projac, pode trazer alguns minutos de alegria a pessoas que, naquele momento diante da TV, amenizam os problemas e preocupações, seja uma criança enferma numa cama de hospital, alguém que perdeu um ente querido, e aquela infinidade de percauços que passamos na vida, e que, com uma boa risada, ativam, as suas células, melhoram seu sistema imunológico, e aliviam o sofrimento. Um pouco piegas, mas a mais pura verdade...
Revista Util: Um momento especial do programa?
Nelson Freitas: Foram vários... nossos especiais de fim de ano são sempre memoráveis, e num deles, a personagem que eu tenho o maior orgulho, pois foi minha inteira criação, o “Carretel” recebe a visita do pai no Natal , que foi feito por ninguém menos que Agildo “fantástico” Ribeiro, vestido de “Carretel Pai” , e foi deveras emocionante.
Revista Util: “O Show - Nelson Freitas e Vocês” é um grande espetáculo humorístico. Direção de Chico Anyzio e casa sempre lotada. Qual a receita desse sucesso?
Nelson Freitas: Não existe receita. Existe trabalho...que, como diz o “velho deitado” só vem antes do sucesso no dicionário... Eu queria fazer um espetáculo onde as pessoas se sentissem na sala de casa, como um bom bate-papo interativo com a plateia, falando do cotidiano dos relacionamentos, de um ponto de vista cômico, que é a base, o stand-up. Tive a felicidade de ser aceito pelo Chico para a direção em que a cada encontro foi uma aula de vida. a trilha sonora foi feita, com exclusividade, pelo talentoso Nico Rezende com o sax luxuoso do Leo Gandelman e histórias e causos compilados da vida... estreei em junho de 2007, no Bar do Tom e tenho viajado pelo Brasil de lá pra cá, daqui pra lá, sendo bem recebido por onde conseguimos levar o show. Está sendo uma oportunidade valorosa na conquista de um público que acaba conhecendo um artista que ele não vê no programa e que se surpreende com as “cretinices”, sempre num tom de improviso, mas que possui uma espinha dorsal poderosa alinhavada com a elegância e a chancela do “Amado Mestre”.
Revista Util: Você é um ator que, com muito trabalho, conquistou o sucesso e a fama. Que conselho você daria para o jovem que sonha em seguir carreira artística?
Nelson Freitas: Meu conselho é: DESISTAM!! ... enquanto é tempo... é um dos ofícios mais complicados e desafortunados, desde os primórdios da civilização... as pessoas, em geral, só percebem o glamour da profissão, sem levar em conta os atributos que compreendem a vida de um ator... o “buraco” é muito mais embaixo... Mas se a pessoa tem a verve, o talento, a vocação, e a necessidade fisiológica de se expor, o que tenho a dizer é: segura na mão de Deus... e vai...
Revista Util: Agora, vamos às respostas rapidinhas.
Um exemplo: Pelé
Um momento: O gol
Uma saudade: Dinamite no ataque
Um desejo: Vasco de volta na Série A
Um pensamento: Vasco campeão da Série A
Um sonho: Vasco campeão do mundo
Um prazer: O Futebol
Um amor: Precisa dizer?
Sua mensagem para o nosso leitor: “Guerra é guerra... qualquer buraco é trincheira...”

1 de jun. de 2009

Nosso quintal

Criação: Eduardo Gewehr/Tereza Dalmacio

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Por TD


Cresci olhando pra ela. Subi, desci. Levei os amigos. Os amigos me levaram. Juntos, trepamos em árvores, caçamos aventuras. Mergulhamos , corremos, brincamos, CRESCEMOS. Nos afastamos, mas ela sempre ali: soberbamente bela. O tempo passou. E quem um dia acariciou hoje maltrata. Se não pela devastação, pelo silêncio. A indiferença fere tanto quanto o machado.


Salve a Serra do Sambê, salve o nosso quintal,

pedaço da gente, pedaço do mundo.