6 de jun. de 2009

Nelson Freitas, de bem com a vida

Cinema, teatro, televisão, música, Colégio Militar, Marinha Mercante. Dessa mistura louca – Nelson Freitas, ator, humorista, um cara de bem com a vida e trabalhando a todo vapor. São mais de duas décadas divertindo o público com humor irreverente, leve e apaixonante.
A estreia profissional foi em 1987, Teatro Cassilda Becker, São Paulo, com a peça “Nossa Senhora das Flores”. Texto de Jean Gennet, dirigido por Maurício Abud e Luiz Armando Queiroz.
Na sequência, muitos musicais dirigidos por Wolf Maia, José Fernando, Diogo Vilela, Cininha de Paula e Flávio Marinho. E muito mais estava por vir.
Várias novelas na TV Globo, entre elas, “Irmãos Coragem”, “Rainha da Sucata”, “O Mapa da Mina”, “Salsa e Merengue” e ”Filhas da Mãe”. Minisséries, mais novelas, inclusive fora do país. Cinema, mais teatro, mais televisão.

Conheça mais do ator e do homem, Nelson Freitas.

Revista Util: Nelson, como o menino, estudante de Colégio de Militar, descobriu a arte?
Nelson Freitas: Sempre fui o palhaço da turma... onde quer que estivesse, o meu prazer era fazer a alegria e a integração da galera... isso funciona até hoje, sou leonino, exibicionista, e adoro fazer as pessoas rirem. É uma vocação... e como tal, fiz dela o meu ganha-pão.

Revista Util: Em que momento essa paixão aconteceu?
Nelson Freitas: Não existe um momento exato, pois sempre estive envolvido com arte, seja cantando em bandas como a “Oscaravelho” que montei com amigos, em Mogi das Cruzes, onde nasci; em grupos vocais no Colégio Militar de Belo Horizonte, onde organizava festivais que arrebatavam uma multidão em BH, e em peças de teatro que montava na EFFOM (Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante) em que, depois de formado e viajando pelo mundo, fiz Análise de Sistemas na PUC do Rio e comecei a fazer um curso de teatro no Planetário da Gávea em 85. Aí danou-se... como diz o poeta Lulu: “nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia”...
Revista Util: Houve apoio dos seus pais ou escolher a carreira artística foi um problema familiar?
Nelson Freitas: Um “baita” problema...kk eles foram à loucura... “como é que você larga a Marinha e um futuro nos computadores, pra ser um fu... de um artista sem futuro, sem dinheiro??” mas até aí eu já mandava na minha vida e não queria deixar passar essa existência sem arriscar essa possiblidade... Deu certo... hoje sou o “isquidim” na cidade e, lá em casa, o “herói”, mas me considero mesmo um sobrevivente... todo mundo sabe o que é se manter ao sol nesse mercado, sem ter que fazer “teste do sofá” pra ninguém...kkk
Revista Util: Teatro, Tv ou Cinema? Ou os três?
Nelson Freitas: São operações distintas... o teatro é a forja, um exercício a cada sessão... a TV uma ciência imediata... não se tem tempo pra muitas elucubrações, há que se ter uma técnica de posicionamento e uma velocidade de raciocínio pra se formar um organismo entre os câmeras, o diretor de corte, o cenário, enfim... e o cinema uma linguagem artesanal, mais cuidadosa, pois se trata de um processo químico, os negativos são caros, a leitura da câmera requer precisão onde o foco se perde num espaço de 2 centímetros de movimento, mas em comum, todos os veículos precisam contar bem uma história que encante, que emocione, que inspire... essa é a função da arte.
Revista Util: Você se considera um artista completo?
Nelson Freitas: Acho que sim... eu canto, danço, faço rir, chupo cana, assovio... tudo em nome da arte e de um bom supermercado no fim do mês...
Revista Util: Você trabalhou como ator na Argentina. Como foi essa experiência e como tudo isso aconteceu?
Nelson Freitas: Buenos Aires foi um deleite... fiz um teste no SBT pra uma novela (Pérola Negra), mas que não fui selecionado... Os diretores da Telefé Argentina, vieram atrás de atores para fazer a versão brasileira de “Chiquititas”, viram meu teste e me chamaram... aquelas coisas que a gente só entende quando fica velho... que nada é perdido e que até um pé na bunda te empurra pra frente... Fiz o protagonista durante dois anos, ao lado da Flavia “espetáculo” Monteiro, Gésio “amado” Amadeo, Débora “maravilhosa” Olivieri, e tantas outras crianças que depois despontaram na TV no Brasil. Foram dias de encantamento, e de muito trabalho, numa das cidades mais bacanas da América do Sul, que me trouxe um reconhecimento nacional, “tarimba” , e uma legião de fãs mirins que até hoje me identificam pela rua.
Revista Util: Como é fazer o “Zorra Total”?
,Nelson Freitas: O “Zorra” é um fenômeno... um remanescente do bom e velho humor de bordão da TV Brasileira, assim como “Balança Mas Não Cai” , “Faça Humor Não Faça Guerra”, “ Planeta dos Homens”, e tantos outros estrelados pelo genial Jô Soares, e o amado mestre, Chico Anyzio, que inexplicavelmente, deixa saudades, ainda em vida, e com um talento e uma inteligência que fez rir tanta gente nesse pais... vai entender... Mas esse legado, tão bem conduzido por um dos maiores diretores de televisão que se conhece, Mauricio Sherman vem cumprindo sua função com honras e glórias... Inicialmente para ficar no ar por um curto período, já está completando, esse ano, 10 anos de uma alegria ingênua, doce, e despretensiosa, onde fui recebido com muito carinho por todos, e que entre tantos personagens, me alçou a uma categoria seleta que é a dos comediantes. Adoro trabalhar com essa produção e me sinto verdadeiramente valorizado e recompensado por estar trabalhando numa empresa que é um expoente internacional como a TV Globo.
Revista Util: Qual é o seu grande prazer nesse trabalho?
Nelson Freitas: É saber que aquilo que estamos fazendo naquele mundinho dentro do Projac, pode trazer alguns minutos de alegria a pessoas que, naquele momento diante da TV, amenizam os problemas e preocupações, seja uma criança enferma numa cama de hospital, alguém que perdeu um ente querido, e aquela infinidade de percauços que passamos na vida, e que, com uma boa risada, ativam, as suas células, melhoram seu sistema imunológico, e aliviam o sofrimento. Um pouco piegas, mas a mais pura verdade...
Revista Util: Um momento especial do programa?
Nelson Freitas: Foram vários... nossos especiais de fim de ano são sempre memoráveis, e num deles, a personagem que eu tenho o maior orgulho, pois foi minha inteira criação, o “Carretel” recebe a visita do pai no Natal , que foi feito por ninguém menos que Agildo “fantástico” Ribeiro, vestido de “Carretel Pai” , e foi deveras emocionante.
Revista Util: “O Show - Nelson Freitas e Vocês” é um grande espetáculo humorístico. Direção de Chico Anyzio e casa sempre lotada. Qual a receita desse sucesso?
Nelson Freitas: Não existe receita. Existe trabalho...que, como diz o “velho deitado” só vem antes do sucesso no dicionário... Eu queria fazer um espetáculo onde as pessoas se sentissem na sala de casa, como um bom bate-papo interativo com a plateia, falando do cotidiano dos relacionamentos, de um ponto de vista cômico, que é a base, o stand-up. Tive a felicidade de ser aceito pelo Chico para a direção em que a cada encontro foi uma aula de vida. a trilha sonora foi feita, com exclusividade, pelo talentoso Nico Rezende com o sax luxuoso do Leo Gandelman e histórias e causos compilados da vida... estreei em junho de 2007, no Bar do Tom e tenho viajado pelo Brasil de lá pra cá, daqui pra lá, sendo bem recebido por onde conseguimos levar o show. Está sendo uma oportunidade valorosa na conquista de um público que acaba conhecendo um artista que ele não vê no programa e que se surpreende com as “cretinices”, sempre num tom de improviso, mas que possui uma espinha dorsal poderosa alinhavada com a elegância e a chancela do “Amado Mestre”.
Revista Util: Você é um ator que, com muito trabalho, conquistou o sucesso e a fama. Que conselho você daria para o jovem que sonha em seguir carreira artística?
Nelson Freitas: Meu conselho é: DESISTAM!! ... enquanto é tempo... é um dos ofícios mais complicados e desafortunados, desde os primórdios da civilização... as pessoas, em geral, só percebem o glamour da profissão, sem levar em conta os atributos que compreendem a vida de um ator... o “buraco” é muito mais embaixo... Mas se a pessoa tem a verve, o talento, a vocação, e a necessidade fisiológica de se expor, o que tenho a dizer é: segura na mão de Deus... e vai...
Revista Util: Agora, vamos às respostas rapidinhas.
Um exemplo: Pelé
Um momento: O gol
Uma saudade: Dinamite no ataque
Um desejo: Vasco de volta na Série A
Um pensamento: Vasco campeão da Série A
Um sonho: Vasco campeão do mundo
Um prazer: O Futebol
Um amor: Precisa dizer?
Sua mensagem para o nosso leitor: “Guerra é guerra... qualquer buraco é trincheira...”