O ser humano é engraçado, passa a vida esperando o momento certo. O momento para trocar o carro, para encontrar aquele amor, para tirar férias, para viajar, para plantar uma árvore, olhar a noite, fazer uma faxina no armário, fazer algo para si próprio, sacudir a poeira da mesmice, virar a página, começar do zero, fazer de novo, mesmo que o novo seja reinvenção de um desejo antigo.
E o tempo passa, arrastando o peso de um eterno “se”, se eu tivesse... se eu pudesse... se eu pedisse... se convidasse... se... se... se.
E a barriga cresce, o cabelo embranquece... e tudo se perde?!
Mas quando este “se” é deixado de lado, volta-se no tempo e reescreve-se aquela história. Um papo gostoso, um bom vinho, o toque suave, o encontro planejado, arquitetado, gozado no momento certo.
O ser humano realmente é engraçado, esbarra com este “se”, encara o espelho e resolve reescrever a sua história. Planeja a noite de hoje, pensa no sabor do vinho, no olhar que desperta, no toque de outrora vivo na memória e na pele, e faz o melhor agora.
E para encerrar e viver o hoje, o poema do mestre Mário Quintana:
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.”
Portanto, transforme o se em sim. Grande e sonoro, como a vida pede, presente no aqui e agora. Feliz dia dos namorados.
(Crônica Dia dos Namorados)